sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Escrevo. Leio. Jogo fora.

Escrevo. Leio. Jogo fora. Esse é um ritual que me acompanha há anos, desde o dia em que minha agenda tornou-se uma arma contra mim. Meus segredos, muitos deles escritos em códigos, com a paciência e o tempo ocioso que eu tinha na adolescência. Muita coisa boa foi pro lixo. Outras nem tão boas assim. Pra uma memória desgastada como a minha esse lixo pode fazer falta algum dia. Mas, penso que foi melhor. É melhor não ter um backup de lamúrias e desilusões. Pra quê guardar o que minha memória apagou pra eu não ter que sofrer eternamente.

Cartas que não mandei. Foram muitas. Sempre havia um rascunho. Ou dois, ou três, ou... tudo guardado, toda aquela lembrança nem sempre agradável ao meu acesso para uma hora qualquer de desespero, vontade de chorar, de inventar uma dor de cotovelo. Por muito tempo achei que era depressiva. Quem sou eu pra me auto-diagnosticar? E eu sempre tive uma vida tão feliz, com uma mãe e perfeita e uma irmã que amo incondicionalmente. Aqueles registros só serviam pra uma coisa: fingir uma pessoa que eu não era; uma tristeza que não existia; memórias desnecessárias; coisas idiotas de uma adolescente emburrada, chata e arrogante como a que fui.

Desde o dia que me livrei de todo esse lixo tirei um peso das costas. Pude viver um dia de cada vez, sem voltar ao passado, sem querer redesenhar o que aconteceu. Eu tinha uma mania irritante de recontar os fatos, mudando as coisas pra melhor e viver na ilusão de que iria acontecer um dia. Pobre coitada...

Hoje sou livre do meu passado e tô cagando pro meu futuro. Escrevo aqui até não sei quando. Até o dia que me der vontade de jogar tudo pro alto. Na verdade, não preciso mais me livrar dos meus registros. O que eu precisava me livrar era da pessoa que eu era. Os papéis apenas simbolizavam a Rafa adolescente e chata que eu fui. O passado não me incomoda mais. Porque hoje sei que ele não volta, ou pelo menos parei de acreditar nisso.

Agora eu leio, escrevo e publico. Pra quem quiser ler, para eu ler e pra lembrar das coisas boas que fiz ou que passaram por meus pensamentos e não me incomodam nem um pouco.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse é um ritual que me acompanha há anos, desde o dia em que minha agenda tornou-se uma arma contra mim. Meus segredos, muitos deles escritos em códigos...

Tipo... Sr. Sete!

Liz-chan disse...

Sabe que é por isso que eu acho que sair correndo pelada é uma filosofia muito bonita. Pra que fica se preocupando, né? Sofrimentos só nos faz perder dias de felicidade. Viva!

Anônimo disse...

Agradável ver vc "roubar" minhas canetas, mesmo sentindo um pouco de ciúmes, mas depois vejo que deixa-las irem com vc, é uma coisa útil, e que vc sempre me devolve.Brigado minha camarada por estar com vc esses meses e poder sentir essa escritora que tem dentro de vc, mesmo...
Um grande abraço e continue escrevendo.

:)

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